segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Câmara de Coimbra acusada de destruir "potencial de criação artística da cidade"

O novo manifesto crítico da política cultural da autarquia tem 130 subscritores e está aberto à participação dos cidadãos, na Internet
Há dois anos, 60 personalidades de Coimbra juntaram-se para, publicamente, criticarem aquilo a que chamaram "O Saneamento Básico da Cultura" por parte da Câmara Municipal de Coimbra. Desta vez, foram 130 as que subscreveram o manifesto ontem apresentado, no qual acusam o executivo liderado por Carlos Encarnação de ser "um elemento dificultador e tendencialmente destruidor do potencial de criação artística" de uma cidade que, dizem, está "amarfanhada do ponto de vista cultural".Quando, em 2006, o primeiro manifesto foi tornado público, o social-democrata Carlos Encarnação acusou os promotores de "amiguismo". Foi esta a deixa, explicou ontem João Maria André, encenador e antigo director do Teatro Académico de Gil Vicente, para a escolha da designação do grupo e do blogue www.amigosdacultura2008.blogspot.com, onde os promotores esperam ver crescer o número de subscrições do novo manifesto. "Somos amigos, sim. Da cultura", frisou, apelando à participação de quem, "na cidade e fora dela", através do blogue ou num colóquio marcado para 20 de Fevereiro, queira associar-se ao "grito de indignação com o que se passa em Coimbra".No manifesto, escreve-se que "foram ultrapassadas as piores expectativas" e aponta-se o orçamento para 2008 como "o exemplo mais facilmente quantificável" do referido comportamento "dificultador e tendencialmente destruidor da autarquia". "As verbas para a cultura sofreram um novo corte de três milhões de euros, sendo hoje menos 80 por cento do que em 2004", criticam os subscritores. Acusam ainda a câmara de não ter "um plano estratégico cultural para a cidade", de "asfixiar os recursos e agentes culturais" e "desbaratar o património construído", naquilo que é designado como uma "demonstração paralisante de mediocridade e provincianismo".Entre os subscritores do manifesto - que se intitula Pelo Direito à Cultura e pelo Dever de Cultura! - estão personalidades das áreas da música, do teatro, da fotografia e das artes plásticas, e ainda professores universitários e representantes de outros sectores. Mas tantos nomes "representativos e ilustres", como se lhes referiu José Reis, não pareceram impressionar Carlos Encarnação, que, quando contactado pelo PÚBLICO, considerou o manifesto "um texto menor, do ponto de vista cultural". "Há textos do género muito bons, muito bem escritos, com argumentos poderosos. Mas não é o caso e tenho muita pena", ironizou. Para além de criticar a forma, o autarca negou que o conteúdo do manifesto seja verdadeiro. "Nunca houve tanto investimento na cultura como nos últimos seis anos", contrapôs Encarnação, considerando ainda que "ninguém pode acusar de falta de estratégia uma autarquia que constrói infra-estruturas, recupera o centro histórico, participa em projectos como os do Convento de São Francisco e do Conservatório de Música ou compra a casa de Miguel Torga". "Não é estratégica a política dos subsídios", comentou o autarca, frisando que aqueles, sim, "têm vindo a diminuir". "Há textos do género muito bons (...) Não é o caso e tenho muita pena", disse Encarnação sobre o manifesto.

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